“às vezes um charuto é apenas um charuto”

« A agressividade é a tendência correlativa de um modo de identificação que chamamos narcísica e que determina a estrutura formal do homem e do registro das entidades características de seu mundo » (Lacan in:’L’agressivité en Psychanalyse’-1948 )

A aflição diante do risco de perder os outros é anterior à própria relação com os outros.

« A fonte de água pura deve poder ter seu curso seguido até as montanhas cobertas de neve. » (um ditado tibetano)

Entendo que devemos tentar despertar de tudo que causa sofrimento, e o que aprendemos devemos repassar pura e autenticamente para as outras pessoas, tudo que aprendemos de bom.

« Somos nossos próprios mestres, somos nossos próprios inimigos. Ética: autodisciplina, treinar a mente e as ações assim como as emoções. » (Buda)

Não acredito em bom tradutor ( ainda que de si mesmo) que não seja bom escritor. A tradução pode chegar a ser mais difícil, no entanto de menor valor sempre, que a autoria de uma obra. Escrita boa é a que perfura o âmago do leitor e desperta as mais puras sensações.

« (…)Sou os subúrbios de uma cidade que não existe, o comentário prolixo de um livro que ninguém jamais escreveu. Não sou ninguém, ninguém. Sou o personagem de um romance ainda a ser escrito e flutuo, aéreo, disperso, sem ter sido, entre os sonhos de um ser que não soube me acabar. » (F.Pessoa)

A consciência da realidade crua e nua pode ser mais avassaladora que qualquer imaginário possível do que seja a morte. Viajando aqui para a época da Grande Guerra, sobreviventes eram acometidos por algo de vergonha por não terem morrido com os companheiros. Sentiam um enorme vazio de si e a vivência do limiar da morte, podridão e demais misérias humanas ao vivo e em cores. A maioria dizia que, não fosse pela família, preferiam ter morrido junto e acreditavam que o mereciam e seria o mais justo.

« Todos os escritores são vaidosos, egocêntricos e ociosos. » (George Orwell)

Viver / morrer lembra-me o estranho / familiar de Freud. Não estamos sempre vivendo e morrendo simultaneamente? No entando, ninguém concorda que sejam sinônimos. Dizem ser complementares. Eu, em minha loucura, diria: morte é vida vírgula. Morte é vida exclamação reticências. Pois se vida não é morte, vida é, ponto final. Ou que sentido faria?!

« Aquele que busca salvaguardar o equilíbrio narcísico por meio de um arranjo particular em sua relação com o outro, ou afasta-se do mundo dos outros vivido como uma ameaça para tão frágil equilíbrio, ou apega-se aos outros, demonstrando uma sede de objeto que só é saciada na presença daquele a quem incumbe a função de refletir a auto-imagem fugaz. Nesse caso, o que está em questão é a sobrevivência psíquica. A criação de uma representação de si mesmo remete-nos à necessidade imperiosa para o ser humano de transceder o hiato constituído pela alteridade, exigindo que o fora faça parte do mundo interno em algum lugar do psiquismo. » (João A. Frayze-Pereira)

Às vezes creio que meu viver seja escrever. Porém se escrevo arrisco-me a érder o siso nas profundezas do hiato entre as palavras e minha subjetividade. Fica uma angústia mortífera do desistir de escrever e o arriscado e não menos mortífero caos do sucumbir por escrever. Colapso! Break down! Beco da excelsa solitude! Narciso vitorioso e sem causa ou explicação. De todo modo, a derrota essencial da estrutura.

Por que não me ensinaram a brincar de amor? Ao menos por que proibiram-me de aprendê-lo espontaneamente e me fizeram crer que, por ligar-se à sexualidade e ato sexual, que era feio, perigoso e errado? Por que proibiram-me de tocar no assunto até o ponto em que eu me convecesse e tivesse desconfiômetro para parar de perguntar e fingir que não existe ? O mesmo em relação às minhas emoções, até que, paulatinamente, eu me alienasse sobre elas e consequentemente sobre mim. Por que com meu irmão tudo foi tão diferente, liberado e estimulado?

« …que eu desconstrua meus pequenos amores, a ciência de me deixar amar sem amargura, e que me dêem a enorme incoerência de desamar amando. E, lembrando-te, fazedor de desgosto, que eu te esqueça. « 

Tomei um fora bem quando estava imbuída de Shakespeare. Dramatizei a realidade. Caí de cabeça na loucura da paixão, ignorante.

« Havia inocência em seu sorriso, enquanto caminhava rente ao precipício. » (Herbert Vianna)

Qual a minha idade? Se eu for expressar tudo que guardo na memória que me está tão acessível, levarei muito mais tempo que os anos que tenho de vida. Lembranças intensas, nítidas, férteis, prazerosas, dolorosas, angustiantes, curiosas, vividamente tensas e emocionantes, como um mar em fúria, sem um ano sequer de remanso e brandura.