Ao sair do útero, a criança precisa enfrentar o mundo. A luta inicial é pela manutensão do equilíbrio homeostático. A amamentação traz o leite que alimenta, as fezes e a urina dejetam os produtos já metabolizados e inúteis.

Logo após o nascimento, a estrutura sensorial mais desenvolvida é a boca. É pela boca que o sujeito se mobilizará na luta pelo equilíbrio homeostático. O seio é o primeiro objeto de ligação afetiva infantil e constitui, inicialmente, parte do objeto de desejo, sendo a mãe o objeto total. Neste momento, a libido está organizada em torno da zona oral.

A segunda etapa surge com a eclosão dos dentes, chamada oral canibalística. Caracteriza-se pelo surgimento da agressividade e é importante para o futuro desenvolvimento social do indivíduo.

A fase anal corresponde ao período de um a três anos e caracteriza-se pelo fato de a criança começar a perceber outros objetos, inclusive o pai. No início do segundo ano de vida, a libido passa da organização oral para a anal. No final da fase, a criança já se encontra bastante diferenciada, possui noção do que é dela e do que é do outro. As fezes são também muito importantes e assumem um papel central na fantasia infantil. Alguns autores as comparam ao valor do dinheiro.

No início da fase fálica, a criança distingue o pai e a mãe, mas não percebe a diferença sexual. A erotização passa a ser dirigida para os genitais, desenvolve-se o interesse infantil por eles. A presença do falo é que distingue o homem da mulher. A erotização genital cria a necessidade de buscar o objeto que permitirá a obtensão de prazer, ou seja, um elemento do sexo oposto. É aprendendo a amar em casa que a criança se tornará o adulto capaz de amar fora.

O complexo de Édipo refere-se a um drama vivido intensamente pela criança num período situado entre o terceiro e o quinto ano de vida. Em plena fase fálica, a criança transfere o interesse total de seu ego para o Falo, que passa então a representa-lo. A partir do falo onipotente, a criança passa a dirigir sua libido para a mãe. A mãe sadia, ao se revelar inteira para a criança, mostra-se também como mulher, isto é, como pessoa que procura num outro o amor genital, que a criança não poderá oferecer-lhe ou substituir. Esta recusa assinala que existe na mãe um espaço afetivo que a criança não pode preencher. É um espaço destinado a alguém outro. Esta recusa foi denominada por Freud como proibição do incesto.

As fantasias infantis de se casar com a mãe, de ser seu namorado ficam vedadas pelo pai. A criança configura o desejo de eliminar aquele que lhe impede o acesso à mãe. Fica então configurado o triângulo freudiano denominado complexo de Édipo. O drama edipiano tem como significado o destronamento do narcisismo infantil. A eliminação do rival, “o desejo de morte em relação ao pai” também fracassa, face à manutensão da “proibição do incesto”. O pai revela-se mais forte que o falo todo poderoso. A criança deverá, então, conformar-se à realidade ou transforma-la a fim de obter a satisfação dos seus desejos. A fissura ocorrida neste narcisismo é vivida pela criança por aquilo que se convencionou chamar de complexo de castração. A criança teme perder o que lhe é mais importante, o falo.

O menino vislumbra o poder do falo nas excitações genitais dirigidas à mãe. No entanto, as pretensões eróticas esbarram na presença paterna, que se revela como rival na disputa pela posse da mãe. Os sólidos laços que mantêm o interesse erótico da mãe pelo pai despertam um profundo ódio na criança. Este ódio se traduz por um desejo de morte do pai. Entretanto, ao triunfar sobre o desejo da criança, coloca-se face ao filho como um ser poderoso e indestrutível. Essa vingança toma a forma, no pensamento infantil, de uma possibilidade de castração. Assim, o menino pensa que a menina não possui o falo porque fora mutilada pelo pai. A figura paterna é temida e, ao mesmo tempo, admirada por sua força e poder. Daí o processo de identificação com o pai. Esta identificação permitirá ao menino resolver o conflito no qual ele se viu inserido. Tal identificação consiste em introjetar as qualidades essenciais do pai, transformando o Ego infantil em função dessas qualidades introjetadas. A criança passa então, ela mesma, a proibir-se aquilo que anteriormente o pai lhe barrava. Em suma, no menino, a castração é responsável pela superação do complexo de Édipo.

A menina vislumbra o poder do falo nas excitações clitorianas e, tal como nos meninos, é para a mãe que são dirigidos seus impulsos eróticos. O interesse pela região genital fará com que ela se interrogue a respeito da diferença anatômica dos sexos, até então despercebidas. A esperança de que o clitóris cresça e se transforme num pênis é logo abandonada. A esta desilusão segue-se uma hostilidade pela mãe, vista que ela foi incapaz de fornecer-lhe um pênis. Se no menino é a castração que faz superar o complexo de Édipo, na menina é pela castração que se inicia o Édipo.

A posição feminina é particularmente árdua: não só ela se vê obrigada a deslocar a zona erógena do clitóris para a vagina como também a trocar o objeto de amor materno pelo paterno. Finalmente, é identificando-se com a mãe que a menina passa a assumir uma identidade feminina e buscar, nos homens, similares do pai.

Com a repressão do Édipo, houve de início a repressão da energia sexual. É preciso que ela seja canalizada para outras finalidades. Estando os fins eróticos vedados, ela é canalizada para o desenvolvimento intelectual e social da criança. A este processo de canalizar uma energia inicialmente sexual em uma energia mobilizadora chamamos de sublimalção, mecanismo de defesa mais evoluído e é característico do indivíduo normal. Ao período que sucede a fase fálica, chamamos de período de latência, que se caracteriza pela canalização das energias sexuais para o desenvolvimento social, através das sublimações. Não há nova organização de fantasias básicas, a sexualidade que permanece reprimida durante este período, aguarda a eclosão da puberdade para ecludir.

Segundo Freud, o homem normal era aquele capaz de “amar e trabalhar”. Alcançar a fase genital constituiria atingir o pleno desenvolvimento do adulto normal. As adaptações biológicas e psicológicas foram realizadas. Desenvolveu-se intelectual e socialmente, sendo capaz de amar no sentido genital amplo. É capaz de definir um vínculo heterossexual significativo e duradouro, além de capacidade orgástica plena. A perpetuação da vida é sua finalidade última. Produzir é, num sentido amplo, sublimação do gerar. A obra social seria, então, derivada da genitalidade.

(continua…)